Um mês após anúncio, dólar segue estável e impacto do tarifaço dos EUA segue limitado

Foto: Reuters/Jonathan Ernst

Um mês após o presidente americano Donald Trump anunciar um tarifaço contra o Brasil, os impactos sobre a economia seguem contidos — bem longe da catástrofe anunciada por setores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O dólar, frequentemente usado como termômetro da confiança do mercado, praticamente não se mexeu. Em 7 de julho, um dia antes do anúncio, a moeda fechou a R$ 5,48. Ontem (6/8), terminou cotada a R$ 5,46.

O Boletim Focus, que reúne as expectativas do mercado financeiro, também mostra estabilidade nas projeções. As estimativas de inflação para este e o próximo ano recuaram levemente, e as previsões para o PIB pouco se alteraram.

Parte dessa estabilidade vem do fato de que as polêmicas econômicas de Trump vêm enfraquecendo o dólar globalmente, o que beneficia moedas como o real. Além disso, o impacto do tarifaço é setorial — concentrado em segmentos específicos — e não generalizado, como previam os mais alarmistas.

A situação se amenizou ainda mais após o recuo parcial do governo americano, que retirou 45% dos produtos brasileiros da lista de sobretaxação. Isso reforçou a percepção de que o tarifaço, embora grave, não comprometeria a economia como um todo.

Comparações e lições internacionais

As sanções comerciais aplicadas a outros países também mostram efeitos limitados no longo prazo, especialmente quando o objetivo é político. O exemplo mais claro é a Rússia. Após a invasão da Ucrânia, EUA e União Europeia impuseram sanções severas, congelaram reservas cambiais e excluíram bancos russos do sistema Swift.

Mesmo assim, o PIB russo recuou apenas 1,4% em 2022 e voltou a crescer com força: 4,1% em 2023 e outros 4,1% em 2024, segundo o FMI. A Rússia reposicionou seu comércio, fortaleceu laços com China, Índia e Brasil e manteve sua máquina de guerra funcionando — um duro golpe nas expectativas ocidentais sobre a eficácia das sanções.

E o Brasil?

Por aqui, o presidente Lula continua com declarações infelizes na área econômica, sobretudo em discursos inflamados. Mas culpá-lo pelo tarifaço é absurdo. Não há ação concreta do governo brasileiro que justifique a retaliação americana — nem declarações sobre os BRICS, o uso do Pix ou o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem razão ao dizer que a atuação de brasileiros no exterior — especialmente na extrema-direita — é um diferencial negativo em relação a outros países. Ações organizadas contra o Brasil em foros internacionais contribuíram para a tensão.

A boa notícia é que, se a crise não escalar para o campo diplomático, o Brasil sairá relativamente ileso do tarifaço. O real se mantém estável, os fundamentos macroeconômicos resistem e o impacto, por ora, está restrito a setores específicos.

Fonte: Estadão

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